27 julho 2011

[EXCLUSIVO] Entrevista com Cristiano Castro no Blog de Escalada


'A maioria dos escaladores do Brasil se encontra na região sudeste.

Isso falando em números.

Números estes que refletem pelo mapa de acessos que verifico diariamente.

Porém há muita gente que vive no interior do Brasil, e longe das grandes capitais, porém ainda assim escalam.

A realidade é outra, pois não possuem quantidade de escaladores nem de rochas perto (como RJ,MG e SP).

Este é o caso da pequena, mas ativa, comunidade de Pelotas - RS, que tem dentre suas figuras ilustres Cristiano Castro.

Pesquisei com alguns escaladores de lugares fora dos grandes centros de escalada, e acabei trocando idéias com a escaladora Luane Mondin. Ela me contou como a realidade lá existe escalada, e como fazem para contornar qualquer dificuldade.

Fui indicado a conversar com Cristiano.

Procurei falar com o escalador gaucho para saber mais como é morar em um local com menos recursos que grandes capitais como São Paulo, e como é a sua realidade para praticar o esporte.


1 - Cristiano a quanto tempo você escala aí no Rio Grande do Sul?

Comecei a escalar por volta de 1998.

Na época, fiz um Curso de Iniciação a Escalada em Rocha, com Marcelo Pinho Reis, escalador aqui de Pelotas-RS.

O curso era apenas focado na escalada esportiva e realizado no Campo Escola de Escalada - Pedreira de Monte Bonito, o que eu considerava perfeito, pois dotado de uma visão limitada, eu não tinha ambição de escalar em outros locais, e após o curso, escalei por apenas oito meses e somente no campo-escola, e então parei.

Voltei a escalar em 2008 quando fiz contato com os Irmãos Netto, que são os escaladores mais experientes da região e grandes incentivadores do esporte.

Identificando-me com a paixão que eles demonstram por essa atividade, motivado pela possibilidade de aprimorar os conhecimentos e escalar paredes um pouco maiores, retomei as escaladas sem pressa em atingir o nível que desejo.

Foi através da generosidade dos Irmãos Netto que tive a oportunidade de atualizar as técnicas, possibilitando o que a princípio eu não almejava, escalar em outros locais.

A escalada atingiu um novo grau de prioridade em minha vida e agora, todo o final de semana que o clima nos permite, estou na pedreira junto com os amigos para praticar, e sempre que rola um feriadão juntamos a turma para escalar em cidades próximas.

2 - Como está o panorama da escalada aí na sua região:? Há muitos escaladores ou locais de escalada?

A escalada no Rio grande do Sul de uma forma geral é bastante consistente, mas aqui Pelotas ainda é um esporte pouco difundido, creio que principalmente por ser uma região de planícies.

Somos poucos escaladores, aproximadamente doze, o que nos torna um grupo unido e coeso, que compartilha o conhecimento e procura incentivar e receber bem todos os interessados em praticar.

A escalada fica concentrada no Campo Escola no sub-distrito Monte Bonito e conta com aproximadamente 23 vias esportivas que variam de V a IXc até o momento, com um projeto de Gabriel Netto que certamente irá além disso.

As vias são bem protegidas e o local de fácil acesso. Contamos ainda com boulders na propriedade do escalador Gabriel Gruppelli, que ainda estão em fase de malhação e possuem um potencial excelente.

3 - Como você e seus companheiros fazem para treinar durante a semana?

Os treinos variam, alguns frequentam academias de musculação, utilizam bicicleta, outros preferem corrida e alguns possuem um muro de escalada em casa.

Por vezes dá pra matar o serviço no meio da semana e dar uma fugida até campo escola para escalar, pois fica bem perto do centro da cidade, aproximadamente 22km.

Eu confesso que não sou muito aplicado nos treinos, mesmo tendo um muro em casa (que foi presente dos inestimáveis companheiros de escalada, Luane Mondin e Tiago Machado.) não tenho treinado ultimamente.

4 - Há algum encontro de escalada que reúne os escaladores do Sul do País?

Sim.

Recentemente, em Abril, rolou um encontro de escalada no Salto Ventoso - RS, o 2o Encontro de Escalada no Morro do Urubu - Vila Maria - RS, e quase anualmente tem um encontro de escalda em Caçapava do Sul-RS.

Mas o local que mais costumamos nos reunir sempre que rola um feriadão é a Casa de Pedra, na cidade de Bagé-RS.

5 - A comunidade escaladora daí costuma ir mais para o Exterior (devido à proximidade com a Argentina e Uruguai) ou procura ir para os locais badalados do Brasil?

Se tem algo que o pessoal aqui não prioriza muito são locais badalados.

Percebo que o pessoal busca sempre o melhor custo beneficio.

Vejo a maioria dos escaladores preferindo escalar na Argentina.

Viajar para escalar em outros estados no Brasil torna-se a opção quando é possível unir a outros compromissos, como trabalhar ou visitar algum amigo ou parente em outro estado.

No Brasil viajar ainda é bastante caro.

Por questões de encurtar o tempo de deslocamento e consequentemente o valor da viagem, no período de férias acredito que a melhor opção pra quem mora no sul do Rio Grande do Sul seria realmente a Argentina ou Uruguai.

6 - Como é a acessibilidade a equipamentos aí no seu Estado? Maioria necessita importar?

A compra de equipamentos sempre foi um puco difícil por aqui, em Porto Alegre é um pouco mais fácil, por haver uma procura obviamente maior.

Para o interior a coisa fica complicada, principalmente com relação as sapatilhas. Em alguns casos é melhor pedir a um amigo que esteja no exterior pra trazer, do que comprar pela internet em lojas nacionais ou ir até a capital buscar.

Na maioria das vezes o preço do produto somado a entrega para cidade do interior, acaba tornando a compra inviável, pois encontram-se no e-bay produtos melhores com o valor final muito mais acessível.

Atualmente além do e-bay, temos comprado equipamentos da Alto Estilo, empresa que através de um representante aqui em Pelotas sempre fornece os equipamentos com bom preço, rapidez e qualidade.

Se fossemos depender do comércio local para adquirir equipamento para escalada, não teríamos condições de praticar.

7 - Há Algum problema recorrente com proprietários de onde estão os locais de escalda devido a comportamento indevido de escaladores?

Comportamento indevido de escaladores não, pois mantemos um relacionamento sempre de respeito e amizade com os proprietários dos locais, afinal é indiscutível a importância de manter boas relações com quem está cedendo espaço para a prática de um esporte tão recompensante quanto a escalda.

Eu conheço lugares que não permitem mais o acesso a qualquer pessoa, locais que agora só é permitido escalar ou acampar mediante envio de notificação por e-mail, constando recomendação de escalador conhecido pelo proprietário ou ligação solicitando permissão.

Um dos locais esteve fechado por aproximadamente três anos, devido a atitudes impróprias de turistas e campistas que não eram escaladores.

A maioria dos escaladores que conheço, principalmente os que participam de atividades com o nosso grupo, seguem os princípios fundamentais das atividades outdoor, princípios que vão sendo repassados de escaladores mais antigos para os mais novos.

O que não deveria ser diferente, pois a escalada não deve ser considerada apenas um esporte, e sim, legado, uma filosofia de vida.

Filosofia fundamentada no respeito, na preservação e no minimo impacto.

8 - Uma pessoa do RS e da sua região interessada em praticar escalada, a quem deveria procurar?

No RS, principalmente próximo a capital, recomendo que busque orientação da AGM - Associação Gaúcha de Montanhismo http://www.agmontanhismo.org/.

Aqui em Pelotas e região, quem quiser fazer curso básico de escalada recomendo que entrem em contato com os Irmãos Netto através do blog http://escaladasensur.blogspot.com/

Quem quiser vir a Pelotas conhecer as vias, considerem-se sempre bem-vindos! Façam contato! Teremos grande satisfação em lhes acompanhar e mostrar as vias daqui.

Garanto que não irão se arrepender.

Fica aí o contato:
Cristiano Castro
E-mail / msn : cristiano@ufpel.edu.br
Google+ : https://profiles.google.com/kzzawa
Facebook : http://www.facebook.com/cristianomcastro'

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